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Dissemina UFF

ZINE ECOAR: SARAU DE LANÇAMENTO EM EVENTO 100% ONLINE

Quantos professores pretos você teve na escola? E na faculdade?


Um levantamento feito a partir de dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no ano de 2019 mostrou que apenas 16% dos professores em universidades públicas e particulares do Brasil são negros, ou seja, 62.239 profissionais entre 400 mil.


Quantos artistas pretos você apoia?


Em 2019, uma pesquisa publicada pelo Instituto Gemma (Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa) mostrou que 74% dos roteiristas são homens e, desse total, apenas 4% são homens negros. Em contrapartida, 26% são do gênero feminino e, dessa porcentagem, não há nenhuma mulher negra.


Vamos falar de artistas pretos independentes?


Na última terça-feira (20), o projeto Dissemina promoveu um sarau de lançamento da “Zine Ecoar” durante a Agenda Acadêmica da Universidade Federal Fluminense. Em um evento gratuito e 100% on-line, foram reunidos sete artistas negros que expressam sua força, resistência e reflexões sobre a juventude negra através da arte.


A Zine Ecoar é uma ação do projeto Vozes Dissonantes da Comunicação e Cultura, da UFF. O nome “Ecoar” foi pensado em homenagem ao poema Vozes-Mulheres, de Conceição Evaristo. O projeto Vozes-Dissonantes foi contemplado no edital de Direitos Humanos e Diversidades em 2019, da Proex. O projeto tem como objetivo reduzir os efeitos do sexismo, racismo e também das desigualdades sociais sobre os corpos vulneráveis por meio da promoção de troca de saberes e práticas culturais e artísticas.


"As Zines são ferramentas de comunicação e existência, essas ferramentas possibilitam que os artistas independentes publiquem seus trabalhos. A gente quer que isso ecoe pra diversas pessoas para além comunidade, para além das portas e muros da Universidade", pronunciou Gabriela Rodrigues, que deu abertura ao sarau.


Bruno Rico, David Barbosa, Dayse Gomes, Emanuelly Araújo, Felipe Rocha, Fernando Rocha e Isabela Evaristo, autores que publicaram seus trabalhos na Zine, foram os nomes da noite. Através de poesia, canção, ilustrações e vídeos, os setes artistas apresentaram projetos,, principalmente centrados em raça, mostrando suas lutas contra o preconceito presente na sociedade através suas produções criativas, agregando ao pensamento político.





"Retiramos a lente que nos embaçava a visão. Negro é lindo! Nada mais nos faz crer que não", esse é um trecho da poesia em forma de vídeo que a graduanda da Universidade Federal Fluminense, Isabela de Oliveira, levou para o sarau, com o título “De nós pra Nós”.


“Esse poema saiu quase que de uma vez, foi um desabafo de tudo que a gente vive, de tudo que eu vi. Tem muitas referências ali que eu gosto, referências do Pantera Negra, à literatura da Conceição Evaristo - que eu amo e recomendo -, inclusive o poema da Conceição (Vozes-Mulheres) foi o primeiro que eu li, chorei horrores! Mas, esse poema trata de uma coisa que o 'De nós pra Nós' também trata, que é a ancestralidade. De quantas pessoas que tiveram que ajeitar o nosso caminho pra que a gente pudesse caminhar até aqui, tanta gente que fez cada degrau para que a gente pudesse subir e a gente não pode esquecer de forma alguma e honrar cada uma dessas pessoas”, declarou Isabela Evaristo.





Emanuelly Araujo, que é estudante de Comunicação Social da UFF, graffiteira, ilustradora e do time Dissemina, chegou com sua arte “Geometria Especial” – nome que explicou ter sido um erro de digitação, mas que decidiu permanecer com ele propositalmente – para a noite do evento.


“Eu estava o tempo todo denunciando violências, denunciando racismos e a ancestralidade ficou um pouco de lado, com isso, eu logo pensei no Egito, nas pirâmides, nessa arquitetura incrível e todo conhecimento que o nosos povo negro desenvolveu e ainda é subestimado... Aí, eu comecei a pensar em questões em que a nossa negritude sempre foi muito proeminente e presente... O cilindro e o café eu quis colocar um pouco da presença do período das lavouras, do período colonial e todas essas questões de como o povo negro sempre esteve presente na base desse país. Tem presença, origem, suor e essência negra ali. Em tudo, em todo lugar que a gente olhar hoje, vai ter uma presença negra ali, em qualquer esfera.”, explicou a graffiteira.

Emanuelly também falou sobre sua relação com o afrofuturismo e apresentou ao público sua personagem Pink Flood, que compõe parte do seu trabalho na Zine.



"A porta arrombada, lancinante, a memória do olho-chifre perfurada, o corpo preto ardendo de vazio. Ele queria dizer mas não sabia. O olho sedento de escuta. Perdia a vista. Ecos insuportáveis em sua cabeça. A casa, quieta, dormia.", com o violão na mão, David Barbosa, recém-formado em Jornalismo pela UFF, mostrou o seu talento através da melodia que deu ao seu conto "Alexandre", tocando pela primeira vez ao vivo.

“Eu peguei a referência de uma pessoa da minha família, que é o meu tio Alexandre, que dá o nome ao conto, foi todo inspirado nele. É um texto todo sobre a dificuldade que o homem negro tem de colocar os seus sentimentos e ser ouvido”, contou David.



Bruno Ribeiro, mais conhecido como Bruno Rico, é um escritor, publicitário, empresário, poeta e roteirista. Autor do livro “O menino do morro virou Deus”. Trouxe o conto “O Corredor” para a leitura da noit, que, junto com o poema “Um tiro”, compõe a edição da revista Zine.


"Por eu ter essa minha vivência de favela, de militância negra e tudo mais, vi coisas no meu cotidiano de vida que eram tão pesadas que de alguma forma, a gente tenta extrair poesia disso. Essa é a noção do poeta: extrair poesia de onde necessariamente não tem ou de onde, as vezes, só tem uma tela sem nada. E eu vi muitas coisas desse tipo, vi muitos jovens que certamente seriam jovens incríveis que infelizmente foram levados pela nossa violência, e eu acredito que a minha arte grita muito no sentido de que não podemos deixar isso ser normatizado. É muito voltado para o choque, para a reflexão, que muitas vezes é um universo onde muitos não circulam. ”



"Estou lutando em nome de todas as meninas pretas que passaram e vão passar por isso (racismo)", essa é uma marca da arte de Dayse Gomes, ativista, feminista, ilustradora de livros e quadros, é formada em Artes Plásticas pela Universidade Metodista Bennet. Além disso, Dayse já levou sua arte para França, em uma exposição em 2019 e participou de uma exposição no Brasil, no mesmo ano.

“Sou artista plástica formada e isso a academia vai ter que engolir sempre, a preta, o preto, todos lá dentro se formando e colocando tudo na mão pra dizer pra eles que a gente tem muita potência. Eu sou arte-educadora e nesse meu processo de fazer ilustração eu tenho colocado em prática a de desenhar os corpos pretos e nesses corpos pretos, e dentro desses corpos, eu uso ‘todes’ porque gosto dessa inclusão.”




Felipe Muniz e Fernando Muniz são os irmãos artistas que fecharam a Zine na noite de terça-feira. Felipe é professor de História com pós-graduação em Literatura Infantojuvenil pela UFF e aluno do curso de Comunicação Social da UFF. Já Fernando é ilustrador em formação técnica em Design Gráfico pelo Senai.

"Eu sempre quis colocar o pensamento negro na frente porque eu nunca me vi representado em nada... E foi através da arte que eu percebi que eu posso mostrar muito e está sendo bastante gratificante!", iniciou Fernando.

“Falando sobre o trabalho feito para a ZINE, nós criamos uma narrativa breve, uma narrativa que usasse de imagens para contar história onde a gente estava discutindo um processo de construção porque, quando a pandemia se apresentou, deu muito receio e muito medo. Então, a primeira imagem apresenta esse receio sobre do que viria depois... Então, trabalhando essa lógica do medo, a gente acabou criando uma arte que trazia alguma esperança.", concluiu o irmão mais velho, Felipe.


Geisa Rodrigues, idealizadora do projeto, diz que espera que haja uma mudança nessas narrativas, e destacou que a proposta do evento foi discutir novas formas de se pensar e criar a partir de perspectivas descolonizadas. A live contou com mais de duzentas visualizações no canal do Youtube. Além do sarau, o evento contou com uma exposição de trabalhos de alunos e mesa de debate. Quer conferir sobre tudo que aconteceu na noite? Você pode, basta acessar o link abaixo e ficar por dentro de tudo!





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