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Dissemina UFF

Oficina sobre feminismo negro aborda questões cotidianas junto às moradoras da comunidade 94

Baseado na cartilha ‘Mulheres Negras e o Feminismo de Cada Dia’ de Marianne Oliveira, bate-papo foi coordenado por Monique Paulla, Isabela Evaristo, Cleo Ribeiro e Rayana Fernandes

Por Esther Almeida


Oficina "Mulheres Negras e o Feminismo de Cada Dia", realizada no IACS | Foto por: Beatriz de Oliveira

A oficina sobre feminismo negro, realizada no Instituto de Arte e Comunicação Social, ocorreu em 03 de dezembro deste ano, e contou com a participação das moradoras da comunidade Lara Vilela 94, ao redor do IACS. A atividade ocorreu de forma bem descontraída, com um bate-papo baseado na cartilha “Mulheres Negras e o Feminismo de Cada Dia”, escrita pela publicitária Marianne Oliveira, organizado por integrantes dos Projetos de Extensão Dissemina e Encontros e oficinas rumo a abordagens decoloniais na comunicação. A oficina foi ministrada por Monique Paulla, doutoranda em Mídia e Cotidiano pela UFF e vice-coordenadora do projeto, a comunicadora social e publicitária Isabela Evaristo e as graduandas Cleo Ribeiro (Comunicação Social) e Rayana Fernandes (Letras).


O início do evento foi marcado pelo momento do café da manhã. Na ocasião, as vizinhas — como são carinhosamente chamadas as moradoras do 94 — puderam conversar com a professora Geisa Rodrigues e a equipe do Dissemina para inteirar-se sobre o assunto que seria abordado na oficina. Logo após o breve momento de interação, todas as mulheres se reuniram em uma roda de conversa, e seus filhos, que também estiveram presentes, puderam aproveitar o “cantinho” do desenho.


“A palavra ‘vizinha’ simboliza esse lugar de cuidado. Quando eu era criança e minha mãe precisava estar nos ‘corres’ da vida, era a vizinha que tomava conta. Vizinha é esse lugar do cuidado”, ponderou Monique Paulla.




Durante a oficina, cada integrante da roda de conversa foi convidada a se apresentar às demais e contar um pouco sobre sua rotina, a fim de que as coordenadoras do evento pudessem explicar como o conteúdo da cartilha relacionava-se com suas vidas. No bate-papo, ressaltou-se também a importância de estabelecer uma ligação direta entre o que se produz dentro da universidade e as pessoas que não frequentam a instituição.


O evento percorreu assuntos como família e afeto; direitos das mulheres e o fortalecimento das relações femininas, promovido por uma rede de apoio. Na ocasião, houve um trabalho de reflexão acerca da importância da união entre as mulheres para ampliar a percepção do que pode violentá-las e, igualmente, auxiliar na conquista de uma vida verdadeiramente digna.


No decorrer das trocas de vivências entre as vizinhas e a equipe do Dissemina, o tema da saúde mental também esteve em pauta. As jornadas duplas e até mesmo triplas, impõem a várias das participantes um ritmo de trabalho incessante e, além disso, fomentam sintomas de ansiedade, cada vez mais recorrentes entre elas, ao fazer com que essas mulheres abracem inúmeras responsabilidades. Segundo as experiências das moradoras do 94 e, igualmente, das coordenadoras da oficina, muitas pessoas as denominam como “guerreiras”, mas na realidade, elas desejam, acima de tudo, poder experimentar uma espécie de vida humana comum, sem a sobrecarga de tarefas a elas impostas.


Por fim, as mulheres presentes ouviram alguns áudios enviados por Marianne Oliveira, que é a autora da cartilha, mas não conseguiu participar presencialmente do bate-papo por motivos de saúde. Na mensagem, a publicitária falou sobre suas intenções ao escrever o trabalho “Mulheres Negras e o Feminismo de Cada Dia” e desejou que todas as ouvintes pudessem chegar ao fim do evento refletindo, cada vez mais, sobre os impactos das violências de uma sociedade racista e misógina em suas vidas, além de como exercer seus direitos em um país tão complexo quanto o Brasil.


“Essa cartilha foi pensada para vocês e por vocês, para criarmos uma comunidade de mulheres, pensando sobre nossos direitos, os afetos que temos, nossa família, nossa vida. Inicialmente, na cartilha, eu conto a história da minha mãe e da minha avó, e essa foi uma forma de me conectar ao feminismo e entender o quanto a nossa vivência e nossas experiências formam a nossa sociedade e como podemos melhorar, cada dia mais, e contribuir com outras mulheres, nossos filhos e nossa comunidade”, explicou a autora.


Ainda segundo Marianne, é imprescindível compreender que os “direitos” possuem um sentido amplo e que a falta deles precariza a vida de mulheres negras, que acabam enfrentando inúmeras dificuldades que dificilmente seriam vivenciadas por grupos privilegiados.


“Por isso, eu me aproximo neste projeto do feminismo negro, para que a gente possa refletir sobre nossa vivência enquanto mulheres negras, e até, de repente, mulheres não-negras, mas que sofrem com a precariedade do governo [...] Os direitos de afeto, os direitos de estar próxima a sua família, porque você precisa trabalhar o tempo todo, o direito de se cuidar, porque você tem sempre que estar cuidando dos seus… Então, a gente aproxima isso, para que possamos refletir sobre essas pautas”, concluiu a publicitária.


A oficina “Mulheres Negras e o Feminismo de Cada Dia” foi pensada pelos Projetos Dissemina e Encontros e oficinas rumo a abordagens decoloniais na comunicação, a partir do compromisso com o diálogo e a troca entre universitários e outros grupos sociais, que compartilham vivências atravessadas pelo racismo e machismo, e estão fora dos muros da universidade. Os projetos de extensão e pesquisa, que estão vinculados ao Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense, contaram com a colaboração da PROEX - Pró-reitoria de Extensão da UFF para a execução do evento, que priorizou o intercâmbio de conhecimentos advindos das experiências sociais com os oriundos da área acadêmica, possibilitando a reflexão acerca de estratégias transgressoras para a comunidade negra e para o campo da comunicação.


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