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Dissemina UFF

(Re) Construção de narrativas marginalizadas: Expressões da cidade nas Universidades

Atualizado: 14 de mar. de 2021

Aconteceu em 18/06/19 o evento “E-Voices Dissemina: Experiências Ativistas do Brasil e do Sul Global”, na sala Interartes do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). Organizado pela rede E-Voices: Redressing Marginality e pelo Projeto Dissemina, o seminário foi composto por três mesas de debate e abordou questões de raça, gênero, tecnologia e direitos humanos e ainda contou com a presença de ativistas e militantes da área como Átila Roque, diretor da Fundação Ford, e a deputada estadual do Rio de Janeiro, Renata Souza.


O E-Voices é um projeto que reúne acadêmicos de diferentes partes do mundo para explorar o tema da marginalização e a forma como as mídias digitais podem ser utilizadas como ferramentas de auxílio para as populações marginalizadas e ajudar a promover a inclusão social. Parte importante de sua identidade reside no fato de que suas ações têm o objetivo de quebrar essa tendência de ficar dialogando entre acadêmicos e levar essas discussões para fora desses espaços. A rede inclui iniciativas de cinco países (Brasil, Costa Rica, Quênia, Reino Unido e Síria) e compartilha as estratégias adotadas por organizações para combater a marginalização.


O “Dissemina” é um projeto de extensão da Universidade Federal Fluminense, que nasceu a partir da necessidade de reconfigurar a representação negra nos diferentes veículos midiáticos. A ideia é que alunos negros possam contar suas histórias e vivências por meio de produções que transcendam as diversas mídias e articulem-se no campo da comunicação, cultura e educação. Todo o trabalho realizado é feito de forma conjunta, de modo que todos os participantes colaborem na elaboração dos produtos e, dessa forma, tenham sua visão nos resultados.


“Ninguém melhor do que os favelados para falar sobre os favelados”


O seminário também teve essa vertente. Durante as suas oito horas de duração, foram discutidas diversas pautas, mas a importância de ter a população das favelas e das periferias como participantes ativos na produção de conhecimento foi um tema recorrente. A terceira e última mesa da noite contou com a presença da professora da UFF e organizadora do evento, Andrea Medrado, do diretor da Fundação Ford, Atila Roque e da deputada estadual do Rio de Janeiro, Renata Souza. Medrado, ao comentar sobre a experiência da Rede E-Voices, ressaltou a importância do lugar de fala no combate à marginalização.


“É importante que a as iniciativas sejam de base, ninguém melhor do que os favelados para falar sobre os favelados. Além disso, muitas dessas iniciativas já possuem um histórico de envolvimento em atividades comunitárias, em especial a comunicação comunitária e popular.”, destacou.


Renata Souza, deputada estadual pelo PSOL-RJ, evidenciou que a favela não pode continuar sendo objeto de pesquisa sem que esses resultados voltem para o espaço no qual foram baseados e para os atores deste local. Quando a Universidade utiliza desses espaços como fonte de produção de conhecimento, muitas vezes, a própria favela não se sente representada por essa instituição.


“A Universidade precisa ser a expressão do que é o universo da cidade e não o contrário. Então a gente precisa falar dessa construção de sujeitos. Os favelados estão construindo narrativas sobre si e novos discursos para que a gente possa entender a favela de outro prisma, mas muitas vezes quando a Universidade se apropria desses temas, a favela não consegue ter visibilidade nesse processo.” completou a deputada.

Renata destaca também a importância de se utilizar o espaço universitário para causar incômodo social ao debater sobre pautas que o Estado continua invisibilizando. Para ela, o olhar preconceituoso e racista das instituições faz com que estas fiquem caladas em momentos em que atores da política institucional desumanizam as pessoas das favelas. Ela defende, então, a importância da juventude periférica e negra ocupar estes espaços institucionais.


“É muito importante a inserção desta população marginalizada nestes espaços. Por exemplo, o número de mulheres nas faculdades cresceu, mas em postos de políticas institucionais o Brasil anda muito mal das pernas. No Congresso Nacional, apenas 15% são mulheres. Na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, 17%. Isso é muito abaixo da média da América Latina, em que mulheres ocupam 28% dos cargos institucionais.” destacou.



Atila Roque, diretor da Fundação Ford, afirmou que os temas discutidos no seminário são temas que são fundadores do Brasil. Ele acredita que “apesar dos brasileiros não gostarem de serem vistos dessa forma, o racismo e a violência são os pilares da formação da nossa estrutura política e social.” Entretanto, Roque entende que pelos últimos 20 anos esteja ocorrendo a projeção de novos atores e sujeitos políticos graças à quebra de alguns silêncios, como, por exemplo o debate sobre cotas raciais.

“Estamos, de fato, reestruturando a política, o país nunca foi capaz de nos representar. Por mais que soframos ataques, esse movimento de ocupação de espaços que antes nos foram negados não vai ser apagado.” completa.


Renan Castelo Branco

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