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Dissemina UFF

Sobre o jornalismo antirracista, Daiane Oliveira afirma: 'Que se torne o jornalismo tradicional'

A jornalista Daiane Oliveira ministrou a segunda oficina realizada pelo projeto Dissemina neste semestre, onde apresentou falhas do jornalismo tradicional e deu dicas de como produzir conteúdo antirracista.


Por Victória Pereira


No último dia 26 de abril foi realizada a oficina “Práticas antirracistas no jornalismo”, apresentada pela jornalista Daiane Oliveira. O evento foi organizado por estudantes de Jornalismo e Publicidade que integram o projeto Dissemina, da Universidade Federal Fluminense (UFF). A oficina abordou a necessidade de discutir novos formatos no jornalismo, que atendem a realidade de pessoas negras dentro e fora das redações do país.


Daiane Oliveira, mulher negra, natural de Salvador, ingressou no curso de Jornalismo por meio do Programa Universidade Para Todos (ProUni), e foi uma das cinco pessoas negras a se formar em sua turma. “A minha foto de formatura conta com 5 negros, em uma turma com dezenas de formandos, sendo que só 2 erámos pobres e só eu filha de doméstica”, comenta Daiane. Segundo dados da pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), negros e negras representam 50,3% dos estudantes das universidades públicas. No entanto, quando este recorte é feito no curso de comunicação, os estudantes negros são 4% dos matriculados, e 12% nos cursos de propaganda e marketing, de acordo com o Ranking Universitário Folha (RUF) feito em 2019.



A linha editorial de veículos grandes se disfarça nos princípios de objetividade e imparcialidade da notícia, para privilegiar determinados grupos, ao mesmo tempo em que utiliza estereótipos na construção de reportagens, invisibiliza pautas raciais e não oferece espaço para profissionais negros dentro das redações. O discurso apresentado no jornalismo tradicional ainda é racista e, muitas vezes, reproduz preconceito de classe.


“Não tem muita diferença o que é feito hoje com o que era feito no século XX. A maioria das redações, mesmo com pessoas negras na equipe, são comandadas por pessoas brancas ou a emissora é de uma das oligarquias de comunicação. A questão é que atualmente também existem canais de questionamento sobre essa linha editorial, o que faz com que as empresas, para não perder investimentos, consumidores, capital mesmo, também utilizem as bandeiras e pautas para manter o interesse do público e o discurso de imparcialidade”, afirma Daiane.


Indo contra este cenário, a jornalista mostrou algumas técnicas fundamentais na oficina, que precisam ser adotadas diariamente nas redações, como a atenção ao utilizar determinada palavra para caracterizar pessoas negras, o cuidado ao escolher fotos que podem hiperssexualizar corpos negros e a entrevista com fontes diversas para construir uma reportagem.



Os protestos antirracistas que ocorreram em junho de 2020 após o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, refletiram em vários setores da sociedade. Em decorrência deste acontecimento, algumas empresas, inclusive jornais, abriram vagas de emprego, estágio e trainee destinadas às pessoas negras como forma de se posicionarem contra o racismo. Apesar de ser uma conquista, ainda é preciso cautela pois há um longo caminho a ser percorrido, como comenta Daiane: “(É) reparação histórica, racial e uma ótima estratégia de marketing. É uma forma que temos de ‘furar bolhas’ ”. Atualmente, somente 23% dos jornalistas são negros como mostra um estudo da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).


A falta de espaço e oportunidade contribuem para o aumento no número de sites e jornais independentes. Jornalistas negros estão migrando cada vez mais para veículos independentes, estão produzindo mais conteúdo para as redes sociais e investindo em seus próprios negócios. O jornalismo antirracista em si se tornou uma forma de oferecer protagonismo e autonomia a jornalistas negros. “Que se torne o jornalismo tradicional e não uma ‘vertente’, uma opção. O jornalismo precisa ser um meio de combater as violências, então ser antirracista, anticlassista, antissexista, antilgbtfobico é o meu sonho utópico para a comunicação”, pontua Daiane.


Durante toda a oficina, Daiane citou diversas filósofas e escritoras negras do Brasil e de outros países, como forma de afirmar a produção de conhecimento de pessoas negras. “Entenda que já existe uma caminhada anterior a nossa. Quando a gente conhece a nossa história, a gente entende a nossa força e que não está só”, declara a jornalista.


A oficina “Práticas antirracistas no jornalismo” está disponível no canal do YouTube do Dissemina.

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