Aos poucos surgem novas formas de comunicação popular, de referidas comunidades, com um engajamento alternativo e comunitário. Longe da mídia não representativa e com um discurso distante da realidade. São movimentos sociais e de uma coletividade que permite identificar as diferenças e as estruturar em suas respectivas formas.
A primeira mesa do evento “Mídia, Raça e Apropriação Cultural: Estratégias de Poder e Resistência” desenvolveu a temática “Narrativas decoloniais: subversões aos regimes hegemônicos de representação” no Instituto de Artes e Comunicação Social. Discutiu temas como o debate etnocomunicativo no processo de resistência cultural indígena, a manutenção dos corpos negros na mídia, a luta LGBTQI+ e a conservação de um padrão de poder colonial, trazendo análises sobre o tema.
Produzido pelos projetos de extensão “Dissemina: Perspectivas afrocentradas de raça e gênero na comunicação e na cultura” e “Contatos: (Re)Construindo a Publicidade”, o evento contou com a presença de Letycia Nascimento jornalista formada pela UFRRJ, da professora na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (FIOCRUZ) e de Comunicação e Realidade Brasileira na ECO-UFRJ, Dani Balbi, do jornalista e produtor cultural, Marcos Moura e do ator, diretor de cinema e produtor cultural, Alberto Sena. Mostrando a importância do lugar de fala no combate à hegemonia no conteúdo midiático.
Letycia Nascimento inicia sua fala abordando como se dão os debates de comunicação étnica a partir de meios de mídia indígena, que passam pelas narrativas decoloniais. Ela ressalta como os processos de colonização ocorrem no dia-a-dia, mostrando como dentro da comunicação essa narrativa está inserida no próprio aprendizado jornalístico dentro das Universidades, na sociedade e nas relações culturais.
“A comunicação está inserida no entender aquilo que o outro está trazendo pra nós. É uma comunicação que valoriza os saberes pessoais e os saberes coletivos próprios da sociedade, não nos saberes da academia” destacou.
Dani Balbi, primeira professora universitária mulher trans negra no Brasil, que atua também na militância, como editora da Revista Periferias e pesquisadora da Rede Uniperiferias, afirma que não há como pensar numa estratégia de decolonização, sem pensar na tomada dos meios de comunicação estratégicos para difusão de outras visões sobre a realidade. Os comunicadores sociais estão estrategicamente posicionados na sociedade para contar sobre a vida brasileira. E têm uma dimensão ética profunda no pensar na realidade do Brasil e em como isso é visto, produzido e difundido.
Essa comunicação com algumas articulações de uma sociedade estruturalmente assimétrica, colonizada, sobre as especificidades da construção do solo do Brasil, nos trânsitos de raça e gênero que nos atravessam é o que nos falta hoje, segundo os palestrantes.
O debate seguiu para a ideia de uma polarização dos meios de comunicação e o resgate às proporções e distinções da realidade de um povo. Foram levantadas questões sobre como os processos comunicacionais identificam as vivências e as desencadeiam na mídia comercial de grande porte. Ressaltou-se também a importância de não termos mais esses espaços negados, refletindo sobre como diferentes corpos precisam ser inseridos em determinados ambientes para pluralizar o cenário midiático e como podemos romper com essa desigualdade na comunicação.
Alberto Sena conduziu um discurso forte sobre as tomadas dos espaços. Ele acredita que “Subverter a lógica, é realizar aquilo que surpreenda o que o outro espera que você não consiga, e precisamos ocupar os espaços sem pena.” Reforçando sua vivência como um corpo negro e gay comunicador, criador de projetos, que entende que não há representação, mas, uma projeção de novos olhares e sujeitos.
“É muito difícil quando vamos dialogar com alguém e a pessoa acha que não temos potencial de estudo. Você ocupa esse lugar, mas não é capaz de ocupar esse lugar.” completa.
Marcos Moura destaca também a importância da cultura de representação, e critica a falta de acesso a atividades culturais pela população periférica e negligenciada. Precisamos falar dessa construção de narrativas sobre a existência e novos discursos para que a gente possa entender a favela, as questões de gênero e raciais e se apropriar dessas temáticas.
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