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Dissemina UFF

Nós por Nós: na música, na arte e nas ruas

Atualizado: 14 de mar. de 2021

“Hoje somos festa, amanhã seremos luto”, essa foi uma das frases da poesia do compositor e funkeiro Praga, que ressoou na sala interartes do IACS, na segunda mesa do evento “eVoices Dissemina: Experiências Ativistas do Brasil”. O evento, que ocorreu no dia 18 de junho, realizado pelo Projeto de Extensão Dissemina em parceria com a rede E-voices, trouxe em sua segunda mesa, “Artivismo , ações criativas para combater a marginalização”, um debate sobre quais instrumentos da comunicação e da cultura podem combater a marginalização e recriar representações da favela e do negro.

A poesia recitada por Thainã de Medeiros, do coletivo Papo Reto, é uma letra de uma música de funk, estilo musical constantemente criminalizado, e que é defendido por Thainã como instrumento de resistência da cultura negra. Este instrumento muitas das vezes é subjugado à estética dos que já produzem cultura hegemônica, quando, ou tentam se apropriar desta cultura, tornando-a mais palatável, ou apontando-a como baixa cultura. Retomando a memória da necessidade de se pedir liberdade para Rennan da Penha, funkeiro que produz o maior baile funk do país, ele defendeu que as duas formas de marginalização e criminalização exprimem uma mesma lógica. A de aversão a uma música intrinsecamente negra, que remete à batida dos tambores ancestrais e das guerras de facão.


Para ele, por retomar esses ritmos ancestrais, também, em consequência, retoma-se a lógica da resistência através da arte e da construção dessa arte através da cosmovisão do ubuntu, que é de “nós fazendo por nós mesmos”.


A ideia do “nós por nós” perpassou toda a mesa. Andressa Núbia, artista que constrói o Gato Mídia , coletivo de mídia digital que nasce no Complexo do Alemão em 2013 e que utiliza a "gambiarra digital" para o empoderamento do favelado, também retomou essa lógica. Apresentando o trabalho do coletivo, Andressa sustentou a necessidade dos marginalizados “hackearem” a tecnologia, que é utilizada hoje pelos que detêm o poder na sociedade. Para ela a tecnologia pode e deve ser útil para a emancipação dos excluídos. "Quem cria os aplicativos? Quem cria as histórias e os filmes? A proposta do Gatomídia é criar e fazer por nós mesmos" apontou Andressa.


Além do laboratório de tecnologia para favelados, videomapping, aplicativos e outras iniciativas do coletivo, também foi apresentada uma instalação que a própria artista criou, com base na estética do afro futurismo. Esta estética nasceu na década de 40 , mas ganhou força na década de 90 e baseia-se em pensar perspectivas para o futuro do negro a partir do olhar para o passado. Com isso, a instalação recriou o IROKO, que segundo a mitologia ioruba, é o portal por onde passam os orixás.


Além da música e da tecnologia, a rua também foi apresentada como instrumento para diálogo, emancipação e inclusão da favela a direitos. O terceiro convidado, Anderson Caboi, que abriu a mesa, é comunicador popular da Maré e, além de apresentar o Maré Vive, página do facebook que trabalha alguns eixos como comunicação colaborativa, memória, direitos humanos, políticas públicas e utilidade pública, também apresentou o Maré 0800. Esta é uma experiência entre comunicadores comunitários das favelas da Maré que veem a rua como dispositivo de comunicação e articulação das favelas. O projeto começou com o "dia das crias" , quando ocorreu um evento de Dia das crianças no morro . Todo mês o Maré 0800 está em alguma favela da Maré, trazendo doações de roupas, brincadeiras, cursos, peças de teatro e criando interconexões com os moradores. Através desses eventos são criadas, então, redes de solidariedade coletivas entre os seus moradores e em consequência a emancipação a partir da ação coletiva.


Emanuela Amaral

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