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Dissemina UFF

EXISTIR E RESISTIR COMO UNIVERSITÁRIA MORADORA DE COMUNIDADE

"Além do esforço para a conquista de uma vaga, são redobradas as energias para se manter neste espaço."


Morar em comunidade é de fato um dos cerceamentos a quem se encontra dentro dessa realidade, do ensino fundamental ao superior, na dificuldade de ir às aulas, nas invasões inesperadas e nos tiroteios que, por vezes, fecham escolas e geram uma rotina de medo aos afetados.


E claro, há um certo distanciamento quando você se vê na Universidade sendo um corpo negro nesse cenário conflituoso. Estar inserida no ambiente universitário é conflitante, quando não só temos problemas relacionados a nossa insegurança dentro de um ambiente elitizado, mas também, quando existem confrontos sociais que te envolvem.


Além do esforço para a conquista de uma vaga, são redobradas as energias para se manter nesse espaço. Da tentativa de inclusão no padrão dos colegas de curso às oportunidades que se perdem, são inúmeras as dificuldades, como a falta de ônibus quando acontecem as súbitas guerras, problemas financeiros, desemprego e desafios intelectuais.


Há semanas preciso escolher se me arrisco saindo de casa, entre a trilha sonora do medo e a perda de aulas. O que mostra que estou sempre atrás quanto à produtividade, pontualidade, presença, e isso faz com que eu desacredite da minha permanência na faculdade, precisando me munir de uma consciência que talvez muitos não precisem ter.


Viver sob a ameaça de violência por criminosos e a falta de tato ou a repressão policial, é uma das questões que nos cercam. Além de conviver com a falta de saneamento, água, boas escolas e postos de saúde, e encarar a insuficiência desses serviços públicos essenciais, tudo nos leva à precariedade da segurança pública.


Somos abandonados e sem sequer uma discussão palpável quanto a esse abandono. Precisamos de segurança pra conseguir ir até a padaria sem sermos mortos, chegar no trabalho, saber que os nossos filhos podem ir à escola para uma educação de qualidade, e que podemos nos locomover sem sentir medo do que nos espera na volta para casa.


Precisamos nos fortalecer pela consciência de nossos direitos, sendo capazes de contestar a percepção de que todos os moradores de favelas são criminosos. Há potência em nossos espaços. Não queremos só ter nossas vidas arrancadas e subjugadas. Devemos ser vistos e respeitados. Que falemos mais sobre comunidades e os bons frutos que de lá surgem. Eu sou um fruto de lá, e quero ser luta.


Por Dayanne Soares

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