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Dissemina UFF

Entrevista com Eloá Rodrigues

Eloá Rodrigues tem 26 anos e é moradora do bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo. Ela é estudante de Ciências Sociais da UFF, secretária de igualdade racial do Grupo Diversidade Niterói (GDN) e presidenta do Conselho LGBTI de Niterói. Eloá é uma mulher negra, transgênero nascida e criada na periferia. Esse ano ela foi eleita Miss Beleza Trans Rio.


Qual a importância de entender e reafirmar sua negritude?


É de suma importância a compreensão do que é ser uma pessoa negra no país que mais nos assassina e mais nos segrega. O próprio Estado brasileiro nega, por vezes, a nossa diversidade, nos colocando como iguais e supondo que saímos da mesma linha de partida. É de suma importância porque a gente passa a entender a complexidade de ser quem se é e de entender qual o nosso lugar no mundo.


Por muito tempo, esse tema não foi falado. Não é falado dentro da família, não é falado dentro das escolas, não é falado nos nossos meios sociais. A gente cresce achando que somos de fato todos iguais, quando na verdade não somos. Temos nossas particularidades, nossas vivências, e isso é determinante pra dizer quem segue à margem e quem consegue ser o ponto fora da curva. Então, acredito que ter essa consciência é muito importante para traçar novas narrativas diferentes das que já nos são dadas. A compreensão desse corpo negro que passa a ser um corpo político acontece à medida que tomamos essa consciência.


Ser consciente e se empoderar da história e estética negra foi importante durante a transição pra construir sua identidade?


Eu sempre fui cercada de mulheres pretas de muita fibra que, mesmo sem saber, já eram feministas e que já mostravam que a mulher negra é quem carrega todas as questões. Mas eu não tinha essa percepção, esse entendimento demorou para acontecer por causa de toda uma conjuntura; de eu ser moradora de uma periferia, onde a informação chega de forma bem tardia.


Todas as minhas influências e referências são de mulheres negras, dentro da minha família, nos espaços de militância. Então, todas as mulheres em que eu busquei inspiração durante a minha transição eram mulheres negras. Como diz Luma Piedade: “a dororidade nos une”. A dor de ser uma mulher preta me une com diversas outras mulheres pretas. Eu costumo pensar na vivência de pessoas pretas e na vivência de pessoas trans. As histórias acabam se repetindo muito, mas os personagens mudam.

Como você se enxerga hoje ocupando espaços tão relevantes que são tradicionalmente ocupados por pessoas brancas, não-periféricas e cisgênero?


Eu ocupo vários espaços: tô na militância, tô no meio das artes. Isso no meio da minha comunidade da periferia tem um impacto muito grande na vida das pessoas. As pessoas não pensavam que uma pessoa trans, uma pessoa negra, uma pessoa periférica pudesse ir para fora do país, dialogar com tanta gente importante; sair da marginalidade que as pessoas esperam. Acredito que eu seja uma inspiração não apenas para as futuras gerações, mas para as pessoas de agora também. Esse caminho está sendo traçado e pavimentado para que outras pessoas consigam trilhar por esse caminho com mais facilidade. É muito importante ser inspiração para os meus sobrinhos, para as crianças que tão em volta, que são pretas, às vezes LGBTs. Eles podem ver em mim uma esperança de que a história pode ser mudada. Deixar essa sementinha é muito importante para que um dia a gente possa viver, de fato, em uma sociedade com mais equidade e com mais amor.



Por Maria Eduarda Barros

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