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Coletivo Ponte Cultural leva atividades para democratizar o acesso à cultura em Apollo 2

Atualizado: 14 de mar. de 2021

"A ideia é subverter a lógica": Coletivo Ponte Cultural leva atividades para democratizar o acesso à cultura em São Gonçalo e Itaboraí


Compre a edição impressa de um jornal na banca ou busque num portal de notícias online por informações sobre Itaboraí e São Gonçalo. A segurança pública é o principal assunto que norteia notícias sobre as duas cidades da Região Metropolitana. A falta de estrutura reflete a ausência do poder público na cidades, que ficam mais conhecidas no noticiário por suas deficiências e pela violência.

Foi pensando nesse cenário que dois moradores do bairro Apollo 2, no limite entre os municípios, decidiram se mover para democratizar o acesso à cultura na região. O coletivo Ponte Cultural foi criado há três anos pelo jornalista Marcos Moura e pelo ator e diretor de cinema Alberto Sena, e promove atividades como cineclubes, saraus e palestras, até rodas de conversas em escolas, cursos de teatro, cinema e aulas de piano, desenho e artesanato.

— A gente mora no Apollo 2, um bairro limítrofe entre São Gonçalo e Itaboraí, que sofre com a ineficiência do poder público. Eu moro aqui desde os 4 anos. Cursei Jornalismo por conta da área de cultura, e sentia falta de atividades culturais aqui, principalmente por conta dos adolescentes. Queria que eles vissem o que eu acessava quando ia para o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), por exemplo. Então pensamos em trazer isso para a periferia, e criamos o Ponte Cultural. Nossa missão é promover inclusão social através do acesso à cultura — explica Marcos.

Inicialmente, a ideia era que o público alvo das atividades do coletivo fossem os jovens da região do Apollo 2, mas Marcos explica que hoje o grupo tem alunos de até 60 anos, por exemplo: "com a ausência de atividades culturais na nossa região, não temos como negar acesso".

Sem nenhum financiamento ou apoio público, seja das administrações municipal ou estadual, o Ponte Cultural sobrevive de recursos que Marcos e Alberto tiram do próprio bolso. As atividades, com professores voluntários, são gratuitas, mas o coletivo aceita doações dos alunos e alunas que podem contribuir. A sede do grupo fica em duas salas cedidas em um centro comercial do bairro, e as atividades também são promovidas no térreo e no terraço do prédio, onde o público ainda têm disponível um grande acervo na biblioteca do coletivo, que conta com mais de 1000 livros.

Além das aulas e encontros promovidos pelo grupo na sede do coletivo, "o principal produto", nas palavras de Marcos, do Ponte Cultural é o Cine Tamoio, Festival de Cinema de São Gonçalo. Na edição desse ano, entre os dias 21 e 28 de setembro, no SESC São Gonçalo, foram exibidos 91 curta-metragens produzidos em 19 estados e no Distrito Federal.

— A ideia é justamente de subverter a lógica. A gente leva o nome da cidade não somente para fora da São Gonçalo, mas também para fora do país. É uma resistência para mostrar que a cidade tem suas potencialidades artísticas. Todos os artistas que se apresentaram na noite de premiação eram da cidade, e isso mostra a nossa força — defende Alberto.

Homenageando o casal de atores Chica Xavier e Clementino Kelé, o tema da edição deste ano do Cine Tamoio foi uma pergunta: "Quantos negros cabem no cinema?". Alberto, que além de fundador é um dos curadores do festival, explica a importância de se levar o debate do racismo para o evento.

— Como curador, isso era uma coisa que me incomodava. Nós tínhamos poucos filmes dirigidos por negros, por mulheres, e nessa edição fomos um pouco “radicais”.  Os apresentadores eram negros, os curadores, os jurados, os voluntários, todos. Acredito que isso seja conceber a ideia do tema ao pé da letra — diz.

Entre as 91 produções selecionadas para o festival, estavam 23 ficções, 20 documentários, 16 filmes de temática negra, 11 de terror, oito LGBTQ+, seis indígenas, cinco animações e dois gonçalenses, além de dois longas, um média e cinco curtas exibidos fora da mostra competitiva.

— Nós somos de periferia, negros e gays. Sabemos que por mais que exista militância, são sempre brancos que estão a frente das ações, não são negros que estão determinando as pautas e os debates, então estarmos a frente dessas discussões é muito representativo — afirma Alberto.  




Por Letícia Lopes

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