Ex-aluna Emanuelly Araujo compartilha trajetória profissional e projetos que desdobram seu TCC em ações de impacto social, como a Revista Afronautas e Odu Studios
Na última semana, a UFF recebeu de volta a ex-aluna Emanuelly Araujo, formada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, para uma apresentação inspiradora aos calouros do curso. Abordando temas importantes para a sociedade brasileira, seu TCC não se limitou a um trabalho acadêmico; foi um ponto de partida para uma série de projetos práticos que Emanuelly transformou em realidade, sempre com um olhar atento para temas como representatividade e conscientização social.
Na apresentação, Emanuelly abordou a possibilidade de explorar o TCC para além das limitações de uma monografia. A revista Afronautas é o seu projeto de TCC e destina-se ao público infantojuvenil, visando introduzir temas complexos de forma acessível e visual. Ao explicar sua motivação, ela destacou o conceito de “diáspora”, tema introdutório do seu TCC, e a escolha de apresentá-lo ao público infantil. Segundo Emanuelly, o conceito era fundamental para a compreensão da relação cultural e histórica entre Brasil e África, oferecendo uma base sólida para discussões sobre identidade e pertencimento. Quando questionada sobre o que motivou a inclusão desse conceito como parte de seu trabalho, ela comentou que “é uma palavra complicada, não habitual, exatamente porque não ouvimos na escola", e explica que por isso se sentiu motivada a usá-la. Para a Manu, que é o seu apelido carinhoso, o conceito de diáspora “vem da gente entender nossa origem e como isso pode nos aproximar das raízes”. Assim, se torna imprescindível quando falamos sobre o empoderamento intelectual de crianças negras e periféricas, de modo que elas compreendessem o que acabou por ser tema do ENEM esse ano: "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”
A Revista Afronautas tem 32 páginas e foi cuidadosamente estruturada para capturar o interesse e a imaginação do público jovem. Desde a curadoria dos artistas colaboradores até a criação de personagens e visuais, o projeto foi pensado para despertar a curiosidade e valorizar a ancestralidade. Emanuelly compartilhou que a mascote da revista é um reflexo de sua própria identidade visual e aparece também em seus projetos de graffiti e ilustração autoral. Ao ser questionada sobre o processo de criação dos personagens e as escolhas visuais, ela respondeu que a corrente afrofuturista é a protagonista de suas referências: “Esse movimento ressoa muito comigo, tanto como artista visual, tanto quanto pensadora e estudiosa de relações étnico-raciais”. Ela explica que “o afrofuturismo surge com a vontade de trazer personagens negros na ficção científica e, com o passar do tempo, se torna um movimento estético, desembocando posteriormente em todo um movimento filosófico que orienta desde várias produções audiovisuais, por exemplo o Pantera Negra da Marvel, quanto o modo de vida de muitas figuras negras influentes em nosso tempo". Ainda, ressalta que suas criações incluem um mix disso com mais referências da cultura periférica, favelada e ancestral.
Além dos conteúdos visuais, a revista conta com atividades interativas que incentivam as crianças a explorarem diferentes conceitos de ciência, história, geografia, cultura afro-brasileira e etc. Durante a apresentação, Emanuelly relembrou uma atividade realizada junto ao Dissemina em uma escola pública próxima à sua casa. Nela, distribuímos uma das atividades inclusas na revista e as incentivamos na montagem dos óculos 3D, uma homenagem a Kenneth J. Dunkley, cientista negro responsável pela invenção dessa tecnologia, oferecendo uma nova perspectiva sobre a imagem tradicional de um cientista.
A jornada da ex-aluna estende-se também para outras áreas, especialmente no campo dos jogos. Hoje, Emanuelly atua há quase três anos como artista visual e designer de jogos, uma área que, como ela revelou, ainda enfrenta desafios quanto à inclusão. Além de arte em 2D, ela colabora com marketing e gerência de comunidade para estúdios de jogos. Ela explica como suas pesquisas sobre raça e gênero influenciam seus projetos atuais, especialmente na coordenação de marketing do Odu Studios, um estúdio voltado para temas de religiões de matrizes africanas e cultura afro-brasileira, o qual desenvolve o projeto Odu: Conexões Ancestrais.
“É algo que eu acredito e, quando existe uma causa que eu me identifico e já estudo por interesse próprio, se torna muito mais interessante para mim por trabalhar com algo alinhado aos mesmos posicionamentos e valores”
Ao refletir sobre o curso de Publicidade e Propaganda e suas experiências profissionais, Emanuelly abordou o papel do publicitário no combate ao racismo e sexismo. Para ela, o curso oferece ferramentas que, quando usadas com responsabilidade, podem contribuir para uma comunicação inclusiva e justa, desafiando estereótipos e promovendo diversidade. Questionada sobre o papel do curso na formação de profissionais conscientes, Emanuelly reforçou que: "assim como o impacto que ela [a publicidade] tem no sentido da persuasão do consumidor e no papel que ela desempenha em nossa sociedade capitalista, que se beneficia do sistema racista, acho que pode ser também uma ferramenta de conscientização e quebra desses paradigmas”.
A apresentação de Emanuelly foi, sem dúvidas, uma inspiração para os novos alunos, que puderam vislumbrar as possibilidades da profissão como um caminho para promover transformações sociais. E, para aqueles interessados em conhecer mais sobre seus trabalhos, ela disponibilizou o link de seu portfólio e sugeriu que os alunos explorem e engajem em projetos de extensão e nas atividades que a faculdade oferece fora das salas de aula. Ao final, seu recado foi claro: o campo da publicidade é vasto e pode ser um espaço poderoso para mudanças quando direcionado por propósitos e valores bem definidos.
Link do portfólio: https://beacons.ai/vulgoafronauta
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